terça-feira, 26 de janeiro de 2010

Gerundismo versus gerúndio

Outro dia recebi um e-mail com um título um tanto quanto radical: “Morte ao gerúndio!” Abri com receio de que fosse um atentado terrorista. Felizmente, tratava-se apenas de um texto que ironizava o uso excessivo do gerúndio. Reproduzo aqui um trecho: “Este manifesto está sendo feito para que você possa estar recortando e estar fazendo diversas cópias, para alguém que não consiga estar falando sem estar espalhando essa praga terrível.” Ao final desse “Manifesto Antigerundista”, o autor ainda alertava: “A regra é clara!”. Lembrei-me até do Arnaldo César Coelho.
Ironias e radicalismos à parte, discutamos o caso dos gerúndios. Não se devem confundir os chamados “gerundismos”, que são usos indevidos do gerúndio, com situações em que o uso do gerúndio é legítimo. No excerto acima, o gerúndio é usado com verbos que indicam ações que não estão em curso. Nesse caso, não se deve usar o gerúndio. Poderíamos substituir as locuções com gerúndio apenas por um único verbo. “Este manifesto foi feito para que você possa recortar e fazer diversas cópias, para alguém que não consiga falar sem espalhar essa praga terrível.”
Para verbos que expressam ações que estão ou estarão em desenvolvimento, é normal se usar o gerúndio. Observemos um exemplo: “Se você for a minha casa entre as 18h e 18h30, eu estarei tomando banho”. Note que não há como substituir o estar + gerúndio por nenhum outro verbo, sem haver alteração de sentido. Nesse caso o gerúndio é necessário. Em Portugal, é comum se usar, em lugar do gerúndio, a locução com o verbo no infinitivo, estarei a fazer. Assim, enquanto aqui, no Brasil, o José está preparando uma deliciosa feijoada, em Portugal, a Maria está a cozinhar um saboroso bacalhau. Até a próxima.

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