terça-feira, 26 de janeiro de 2010

Brasil, uma nação de 230 línguas diferentes

É muito comum ouvirmos a orgulhosa afirmação de que o Brasil é uma imensa nação de 180 milhões de falantes de língua portuguesa. Não deixa de ser louvável o fato de pessoas de regiões tão distantes como Sul e Norte conseguirem interagir de maneira satisfatória e compartilhar culturas, ao mesmo tempo, tão diferentes e interessantes.
Em debate dessa semana, no Simpósio Internacional de Letras e Linguística, realizado na Universidade Federal de Uberlândia, o professor emérito da Universidade de Brasília, Aryon Rodrigues, no auge de seus 84 anos, dos quais mais de 60 dedicados ao estudo das línguas indígenas, afirmou que o Brasil possui hoje, aproximadamente, 230 línguas diferentes. Desse total, 200 delas faladas por povos indígenas, que habitam o território em período anterior ao do “descobrimento”. Um número, a princípio, elevado, mas que, se comparado às cerca de 1200 línguas existentes no ano de 1500, demonstra a empreitada portuguesa de submissão do elemento indígena no território brasileiro. Considerando o desaparecimento de aproximadamente 1000 línguas em 500 anos, é possível concluirmos que duas línguas indígenas desapareceram a cada ano.
A dimensão do problema fez com que a Organização das Nações Unidas interviesse junto ao Governo Federal, no intuito de barrar a extinção desse patrimônio imaterial brasileiro. Uma das medidas adotadas foi a inclusão do chamado fator língua no questionário do IBGE, o que permitirá o conhecimento dos locais e indivíduos falantes dessas línguas e, além disso, propiciará a execução de políticas de monitoramento das comunidades indígenas em processo de dissolução. Obviamente, há a necessidade de que outras medidas conservativas sejam tomadas, como a catalogação de inúmeras línguas que ainda não possuem modalidade escrita e que sobrevivem somente na boca de seus poucos falantes. Além disso, não se devem desconsiderar outras dezenas de línguas de origem europeia e asiática, trazidas por imigrantes, que ainda permanecem vivas em algumas comunidades isoladas de todo o Brasil.

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