Há algum tempo já discutimos aqui a necessidade que os falantes de língua portuguesa têm de tornar mais rebuscadas as expressões utilizadas no dia a dia. Renegam-se palavras portuguesas em favor de palavras do inglês e do francês, simplesmente para dificultar a compreensão, ou “elitizar” bens e serviços. E não é só isso, até mesmo no português, às vezes, abre-se mão de palavras simples somente para tornar mais rebuscado o discurso.
O mais curioso é que essa prática já ocorria há muitos séculos. Vejamos um bom exemplo, extraído de gramáticas da língua portuguesa.
Em 1540, ao tratar dos tempos verbais, na obra que seria uma das primeiras gramáticas do português, João de Barros anotou:
“Temos em nóssa linguágem cinquo tempos como os latinos: presente, passádo por acabar, passado acabádo, passádo mais que acabádo, e vindouro, ou futuro.” (conservei aqui ortografia e acentuação da época).
O leitor há de convir que é muito mais simples, para uma criança em idade escolar, lidar com o termo “passado mais que acabado” do que com a forma hoje utilizada, “pretérito mais-que-perfeito”. As formas “passado por acabar” e “passado acabado”, do mesmo modo, são autoexplicativas, por outro lado, as utilizadas nas gramáticas atuais, “pretérito imperfeito” e “pretérito perfeito”, já nasceram arcaicas. Até explicar ao aluno que pretérito é passado e que imperfeito é o que ainda não se acabou, “Inês é morta”, como diria Camões.
Não estou aqui defendendo o empobrecimento da língua portuguesa. As palavras e expressões cunhadas no dia a dia, ao contrário do que se pensa, só enriquecem cada vez mais o português.
O que sugiro é a popularização do ensino de língua portuguesa. Esse excesso de requinte surgiu exatamente em um momento em que a educação era para poucos. O momento agora é outro, a educação é para todos.
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