Em 1920, o filólogo, poeta e folclorista Amadeu Amaral publicou o que seria sua mais importante obra: “O dialeto caipira”, baseado na observação científica minuciosa das características da língua falada no interior paulista.
Alertou Amaral, já nas considerações prévias, que aquela forma de falar, diferente das demais variedades encontradas no país e em Portugal, estava, naquele momento, em vias de extinção e que não sobreviveria por muito tempo.
Segundo palavras do autor, o caipira tornar-se-ia, de dia em dia, mais raro e só com dificuldade poder-se-ia, em futuro breve, encontrar um representante genuíno da espécie.
Após 90 anos de publicação do livro de Amaral, retomamos o que fora apontado pelo autor como característico do falar caipira e, com surpresa e orgulho, constatamos, com base na observação científica da língua falada atualmente na região de Rio Preto, que aquelas peculiaridades, condenadas à extinção, sobrevivem não só na boca dos mais humildes, mas também de pessoas mais escolarizadas do interior do Estado.
E mais, características, como nosso “erre caipira”, particulares de indivíduos que Amaral chamou de “genuínos caipiras, roceiros ignorantes e atrasados”, espalharam-se por quase todo o estado e nos destacam e nos qualificam como moradores do interior paulista, um território que era antes considerado a “boca do sertão”, local econômica e culturalmente isolado, mas que hoje ostenta pujança econômica e social, e qualidade de vida pouco experimentadas em outras regiões brasileiras e internacionais.
Nosso dialeto caipira não mudou. O que mudou foi nosso status social e econômico perante o restante do país. Os “caipiras modernos” preservaram os antigos costumes, dentre eles, o dialeto, e honraram a memória de seus antepassados, mas não deixaram de evoluir e fizeram deste pedaço de chão um local de causar inveja a qualquer “moço da cidade grande”.
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