O diálogo com um austríaco me fez refletir sobre questões interessantes a respeito de nossa língua, as quais a tornam de difícil compreensão para quem não é brasileiro nato. Vejamos.
Quando se quer urgência na realização de algo, diz-se que deve ser feito já. Portanto, “já” quer dizer “agora”. Contudo, quando se diz que algo será feito “já, já”, quer dizer que será feito daqui a pouco. Se um “já” pede urgência, porque dois “jás” não sugerem maior urgência ainda? E quando se diz que algo deve ser feito rapidinho? “Rapidinho” seria diminutivo de “rápido”, por isso, seria natural que “rapidinho” fosse menos veloz que rápido, mas não é.
E o uso do não? Se quero dizer que não vou a algum lugar, digo: “Eu não vou”. “Não” nega o conteúdo do verbo, certo? Acontece que às vezes colocamos outro não ao final da oração e aí tem-se algo como: “eu não vou não”. Se um “não” nega o conteúdo do verbo, o outro estaria negando o primeiro “não”. Seria algo como “eu vou”? Sabemos que não é. Bem faz o nordestino que, com o intuito de evitar a fadiga, avançado em seu tempo e econômico nas palavras, diz: “vou não”.
Sem falar da célebre pergunta: “você tem horas?”. A resposta seria: “sim eu tenho”. Aliás, uma amiga tomou o maior “esfrega” de um taxista em Portugal, quando perguntou se ia chover. Disse ele, em alto e bom som: “Como é que eu vou saber?”. Parece até aquela pessoa que não entende o sentido de uma pergunta retórica. Se você diz: “Olá, tudo bem?”, ela diz: “não” e vem logo com uma série infindável de problemas e doenças. Uma pergunta retórica sugere uma reposta simples como, “tudo bem, e você?”
Como é que o austríaco (aquele mencionado no início do texto) vai entender tudo isso. Coisas da nossa língua. Até a próxima.
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