Quantas vezes você “deu uma de joão sem braço”, “foi um maria-vai-com-as-outras” e “enfiou o pé na jaca”. Depois “começou a trocar as bolas”, “deu com a língua nos dentes” e sua esposa “rodou à baiana”. Não adianta “chorar pelo leite derramado”, pois se não fosse algum amigo “quebrar o galho”, até agora você estava “pegando papel na ventania” e sua mulher “dando mole por aí”.
Apesar do início bem-humorado do texto, a intenção de nossa coluna não é rir da infelicidade alheia. O verdadeiro intuito é demonstrar que, em nosso dia a dia, usamos com muito frequência as chamadas expressões idiomáticas da língua portuguesa, que nada mais são do que expressões que se caracterizam por não serem compreendidas recorrendo-se ao significado particular de cada vocábulo. Ao contrário, somente têm sentido se interpretadas como um todo e, geralmente, surgem de algum episódio corriqueiro do passado, que permitiu que ganhassem popularidade.
A expressão “rodar à baiana”, por exemplo, tem uma história de surgimento curiosa. Diz-se que no início do século passado, os blocos de carnaval saíam às ruas e, em meio ao povo, alguns malandros se aproveitavam das moças. Surgiu, então, a ideia de introduzir alguns capoeiristas, vestidos de baianas, em meio ao desfile, armados de navalhas. Via-se “rodar à baiana” no carnaval.
Os idiomatismos possuem algumas características muito particulares que os diferenciam de simples junções de palavras. Por exemplo, não é possível substituir uma das palavras dessas construções por outra que lhe seja sinônima, sem haver perda de sentido. Ninguém diz: girar à baiana ou dar uma de pedro sem braço.
As expressões idiomáticas são também incorretamente incluídas junto aos vocábulos compostos. Palavras compostas como guarda-roupa ou beija-flor não possibilitam flexão verbal; já expressões como “rodar à baiana” e “dar uma de joão sem braço” admitem flexão do verbo de acordo com o sujeito da ação. “O chefe rodou à baiana”, “A funcionária deu uma de joão sem braço”. É isso.