segunda-feira, 8 de fevereiro de 2010

Mãe pobre, filha nobre

Ao tratarmos da história das línguas românicas, afirmamos anteriormente que o latim é a língua-mãe do português. O que se desconhece é que a língua portuguesa não se deriva do latim clássico, aquele falado pelos grandes oradores, poetas e filósofos, como Horácio, Virgílio e Sêneca, mas sim de um latim simplificado e prático, o latim vulgar - vulgo significa povo, portanto latim do povo, daí vem o verbo divulgar, tornar público. Era esse latim que se usava nas províncias romanas conquistadas. Províncias essas onde iriam surgir línguas, como a espanhola, a italiana, a francesa, a portuguesa e muitas outras. É claro que houve um longo período de transformação até que surgissem essas línguas.
Para podermos entender a diferença entre o latim clássico e o latim vulgar, poderíamos tomar, grosso modo, a comparação que hoje fazemos entre o português padrão, aquele das gramáticas escolares e da literatura clássica e o português não-padrão, da linguagem popular ou coloquial, usado no dia-a-dia.
Durante o período de expansão do Império Romano, certamente, um romano de alta linhagem deveria achar o latim vulgar, que deu origem a nossa língua, um latim “feio e errado”, exatamente como muitos pensam a respeito do português coloquial. É algo a se considerar. Que fique claro que não há qualquer intento de apologia ao português popular. Apenas destaco a importância de não se desprezar a língua do povo, a língua viva, que não para de se modificar e de ser reinventada. A mudança sempre ocorreu, tentar impedi-la é o mesmo que tentar barrar o crescimento de uma criança.
Ah! Para quem ainda tem dúvidas sobre o parentesco das línguas modernas, vai aqui um exemplo: em francês temos arriver (chegar), em italiano, arrivare (chegar), em espanhol, arribar (chegar), em inglês, arrive (chegar) e em português arribar (chegar), este último, apesar de pouco usado, figura em nossos dicionários.
É isso. Até a próxima...

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