domingo, 21 de fevereiro de 2010
Quando usar este, esse ou aquele
domingo, 14 de fevereiro de 2010
Por que seiscentos é com ‘sc’ e setecentos não?
Essa confusão também se estende à escrita, pois é comum haver dúvida se um número é escrito com ‘z’, com ‘s’, com ‘ss’ ou com ‘sc’. Se recorrermos à lógica para explicar a composição de alguns numerais, é provável que nunca mais as crianças apresentem esse tipo de dificuldade.
Observe, por exemplo, os números citados acima: dezesseis é 10+6, ou dez e seis (como em português um ‘s’ entre vogais tem som de ‘z’, dobramos os esses na junção e temos dezesseis). O mesmo ocorre com dezessete (10+7, ou dez e sete, = dezessete). Com dezoito, temos: 10+8, ou dez e oito. Nesse caso, há uma vogal iniciando o segundo número, portanto elimina-se o ‘e’ (desnecessário, já que o padrão normal da língua portuguesa é consoante + vogal) e temos dezoito. Para o dezenove, unimos dez e nove (10+9) e surge dezenove.
Com múltiplos de cem, que também geram confusão na escrita, o critério é o mesmo. Por exemplo, quatrocentos (4x100 = quatro centos), seiscentos (6x100 = seis centos), setecentos (7x100 = sete centos), oitocentos (8x100 = oito centos), novecentos (9x100 = nove centos). Veja que seiscentos é com ‘sc’ porque seis é o único dos números acima que termina com ‘s’.
Ao recorrermos a esse método, elimina-se a incerteza quanto à escrita de numerais como dezesseis e seiscentos. Até a próxima semana.
segunda-feira, 8 de fevereiro de 2010
Mãe pobre, filha nobre
Para podermos entender a diferença entre o latim clássico e o latim vulgar, poderíamos tomar, grosso modo, a comparação que hoje fazemos entre o português padrão, aquele das gramáticas escolares e da literatura clássica e o português não-padrão, da linguagem popular ou coloquial, usado no dia-a-dia.
Durante o período de expansão do Império Romano, certamente, um romano de alta linhagem deveria achar o latim vulgar, que deu origem a nossa língua, um latim “feio e errado”, exatamente como muitos pensam a respeito do português coloquial. É algo a se considerar. Que fique claro que não há qualquer intento de apologia ao português popular. Apenas destaco a importância de não se desprezar a língua do povo, a língua viva, que não para de se modificar e de ser reinventada. A mudança sempre ocorreu, tentar impedi-la é o mesmo que tentar barrar o crescimento de uma criança.
Ah! Para quem ainda tem dúvidas sobre o parentesco das línguas modernas, vai aqui um exemplo: em francês temos arriver (chegar), em italiano, arrivare (chegar), em espanhol, arribar (chegar), em inglês, arrive (chegar) e em português arribar (chegar), este último, apesar de pouco usado, figura em nossos dicionários.
É isso. Até a próxima...
terça-feira, 2 de fevereiro de 2010
Decapitar não deriva de captar
O BOM DIA São José do Rio Preto noticiou, nessa semana, que um homem decapitou esposa e duas filhas, em um bairro da cidade. A manchete estampada na primeira página do jornal foi a seguinte: “Homem decapita mulher e 2 filhas no Solo Sagrado”.
Na manhã seguinte, a redação do jornal recebeu e-mails e telefonemas que questionavam a conjugação do verbo decapitar utilizada pelo jornal. Para alguns, faltava acento e a forma correta seria decápita. Para outros, havia um erro de ortografia e o correto seria decapta.
Vamos esclarecer a questão. Decapitar vem do latim “decapitare” e significa, em português, degolar, cortar a cabeça. Esse verbo se origina da união do termo latino “caput”, que significa cabeça, com o prefixo “de”, que, nesse contexto, acrescenta o significado de separação ou de tornar sem. Vejamos outras palavras: decodificar = tornar sem códigos, decompor = separar componentes.
A confusão dos leitores pode ter sido gerada pela falsa impressão que decapitar deriva de captar, que também tem origem latina e vem de “captare”; em português, colher, apanhar, compreender.
Captar, no presente, se conjuga da seguinte forma: eu capto, tu captas, ele capta, nós captamos, vós captais, eles captam. Decapitar é conjugado assim: eu decapito, tu decapitas, ele decapita (com a penúltima sílaba tônica – ‘pi’), nós decapitamos, vós decapitais e eles decapitam. Nos tempos do Brasil colônia, havia um imposto cobrado dos proprietários de terras, em relação ao número de “cabeças” de escravos, denominado Capitação (com i), A palavra é derivada de caput e não do verbo captar, daí ser escrita com ‘i’. Captação sem ‘i’, vem do verbo captar e, por isso, pode ser usada em frases como: “O sistema de captação de água não suportou a chuva forte.”. De “captar” vem também o verbo “catar”, muito usado na comunicação oral. É isso. Até a próxima semana.