domingo, 12 de setembro de 2010

O “seu” e o “teu” no português

Na versão impressa deste texto, publicada no jornal Bom Dia de 12 de setembro, leia-se possessivo em lugar de demonstrativo.


          No português padrão, aquele das gramáticas, há correlação exata entre  pessoa do discurso e pessoa gramatical. Para a primeira pessoa, quem fala, formas verbais de primeira pessoa, para a segunda pessoa, com quem se fala, formas de segunda pessoa, para a terceira pessoa, de quem se fala, formas de terceira pessoa. Há também relação direta entre essas pessoas e os respectivos pronomes possessivos: “meu” para a primeira pessoa, “teu” para a segunda e “seu” para a terceira.
            Acontece que, por alterações do quadro pronominal do português, ocasionadas pela inclusão de novas formas, não há mais exata correlação entre cada uma das pessoas do discurso e respectivas pessoas gramaticais. A forma de tratamento “vossa mercê”, por exemplo, originou o pronome pessoal de segunda pessoa do discurso, “você”, que substituiu o “tu” e que se utiliza de conjugações da terceira pessoa gramatical, como “ele/ela”. Além disso, o pronome “você” é usado com o possessivo de terceira pessoa “seu”. O mesmo utilizado com os pronomes de terceira pessoa “ele” e “ela”. Conclusão: pode haver ambiguidade no uso de “seu” na linguagem falada e escrita.
            Veja um exemplo real: Um gerente de banco enviou um recado a seu funcionário: “Caro Fulano, o senhor Sicrano, da Diretoria, ligou e disse que seu empréstimo não pode ser aprovado. Por favor, tome providências urgentes para regularizar a situação. Obrigado”.  
            Pois bem. Quem está com problemas? O funcionário ou o membro da Diretoria? Se nos pautarmos nas regras gramaticais, o segundo; se considerarmos o uso real, o funcionário. Aliás, este só descobriu que não tinha problemas no limite, após acessar sua conta.
            Uma estratégia usada para desfazer essa ambibuidade é o uso do pronome “dele” como possessivo de terceira pessoa. Uma solução não prescrita pela gramática, mas que evita a ambiguidade. É isso. Até a próxima.

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