Esta semana, ao apresentar um participante do programa de perguntas e respostas do SBT “1 Contra 100”, o apresentador Roberto Justus disse o seguinte: “O personagem João Plenário retorna novamente ao programa”. Note que não há na oração nenhum problema relacionado aos aspectos morfológicos ou sintáticos da língua. Não há desvios de concordância e também não há problemas de regência, já que o verbo “retornar” pode ser usado com a preposição ‘a’ (retornar a algum lugar).
O problema evidenciado é de ordem semântica, ou seja, tem relação com o sentido dos termos selecionados. Note que Justus utiliza “retornar”, que tem a significação de tornar novamente, já que o prefixo latino re- adiciona ao verbo a ideia de repetição, como em reeditar (editar novamente), reafirmar (afirmar novamente), recomeçar (começar novamente). Até aí, nenhum problema. Ocorre, porém, que, além do verbo retornar, há o emprego do advérbio “novamente”, que também significa “outra vez” ou “de novo”. Houve uma redundância, chamada de pleonasmo. Dizer que alguém “retorna novamente” é o mesmo que dizer que “O homem subiu para cima” ou que “O cachorro comeu a comida”. O problema seria facilmente resolvido com o apagamento do advérbio ou com a troca do verbo: “O personagem João Plenário vem novamente ao nosso programa” ou “O personagem João Plenário retorna ao nosso programa”.
O caso lembra a piada de um amigo:
Um sujeito muito simples volta do médico e o compadre pergunta: “O que é isso no olho, Zé?” Zé responde: “Estou com ‘terçol no olho’, João”. João, sabendo que a doença aparece somente nos olhos, retruca: “’Terçol no olho’ é pleonasmo”. Outro amigo se aproxima e faz a mesma pergunta: O que é isso aí, Zé? E o Zé conclui sabiamente: “Já não sei mais! O médico disse que é terçol, mas o João falou que é pleonasmo!”.
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